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Universidade Federal de Alagoas - UFAL
 

20/10/2011
Geral
NA ROTA DA MAÇONARIA

Há mais de um século presente no Estado, a sociedade secreta mais influente do mundo, tem sua história repleta de mistérios e segredos aos poucos revelada

Por Francisco Ribeiro & Hiago Rocha*

Você consegue guardar um segredo? Provavelmente, sim. Mas, vamos dificultar um pouco a sua vida. Imagine que esse segredo é mantido a sete chaves desde a Idade Média e, é compartilhado por cerca de 5 milhões de homens em todo o mundo. A responsabilidade é grande, não é mesmo? Contudo, a maçonaria alcançou este feito. E, tornou-se conhecida como uma sociedade secreta que ainda mantém uma aura revestida de mistérios e de rituais desconhecidos por muitos leigos, exceto por seus membros, os maçons.

No Brasil, a maçonaria foi trazida pelos franceses, e teve início em 1797, com a Loja Cavaleira da Luz, que ficava no povoado de Barra, em Salvador. No entanto, o Grande Oriente do Brasil só foi criado em 17 de junho de 1822, fixando sua presença, definitivamente, no país. Em Alagoas, a maçonaria existe há 173 anos. No ano de 1837 foi fundada a primeira Loja do Estado, “Amor da Pátria”, que desapareceu após a Proclamação da República.

Apenas em 1959, foi implantada a Grande Loja do Estado de Alagoas (Glomeal). Sendo três anos depois oficializada e regularizada, na Loja maçônica “Perfeita Amizade Alagoana”, pelo grão-mestre baiano Joir Brasileiro, que concedeu sua carta constitutiva nas mãos do grão-mestre José Tavares de Souza, juntamente com uma comitiva, representando a Grande Loja Unida da Bahia. Confira, abaixo, mais detalhes da presença da maçonaria no Estado, cuja história está profundamente envolvida no contexto da política local e nacional, e repleta de figuras ilustres.

Sua origem

Os fatos acerca do surgimento da maçonaria são imprecisos. Alguns estudiosos acreditam que sua origem esteja relacionada com outras sociedades secretas, como o Priorado de Sião ou a Ordem dos Templários. No entanto, a tese mais aceita, é a de que a maçonaria tenha surgido nas “cooperativas medievais”, formadas por pedreiros. Daí o termo maçon, em inglês mason, que quer dizer “pedreiro”. Na época, esses homens detinham o conhecimento das técnicas de construção, bastante cobiçada por todos. Assim, era inevitável que os masons monopolizassem seus conhecimentos de engenharia e, somente os confiassem a aprendizes dignos, em momentos especiais.

Com o tempo essas técnicas perderam a importância, as cooperativas mudaram o enfoque dado nas reuniões. As aulas tornaram-se fóruns, e foram transferidas para locais denominados lodges, que significa “lojas” em português. Foi nesse período que a maçonaria assumiu um caráter “especulativo”, que resiste até hoje. Novos elementos passaram a compor as reuniões, como a alquimia e os rituais simbólicos, e começaram a admitir que homens comuns pertencessem à seita, desde que mantivessem sigilo o que acontecia dentro dos lodges.

Em 1717 na Inglaterra, quatro unidades se uniram, formando a Grande Loja de Londres, ou melhor, o “Vaticano da maçonaria”. As Lojas escolheram o primeiro grão-mestre (chefe de uma potência maçônica) chamado Anthony Sayer, um simples vendedor de livros. Cinco anos após a fusão, James Anderson escreveu o Livro das Constituições, no qual reunia as normas e os rituais transmitidos até então de forma oral. O livro teve grande influência no pensamento das sociedades modernas a nível internacional. Assim, era fundada, oficialmente, a maçonaria.

Os símbolos perdidos

Em todo o Estado existe cerca de 1000 a 1200 maçons e 21 Lojas maçônicas. Deste total, 13 estão localizadas na capital alagoana, sendo três no Centro, três no Prado, três no Tabuleiro dos Martins, duas no Farol, uma no Pinheiro e uma no Graciliano Ramos. E nas cidades de Arapiraca, Coruripe, Maribondo, Matriz do Camaragibe, Olho D'Água das Flores, Penedo, Santana do Ipanema, e União dos Palmares. Várias ruas do centro de Maceió receberam nomes de membros ilustres, como a Rua Barão de Penedo. O terminal rodoviário do bairro Benedito Bentes chama-se João Torres Dantas, que foi um do grande maçon.

Invadindo a estética urbana da capital, inseriram símbolos de caráter maçônico, tentando dessa maneira fortalecer sua identidade. A antiga Praça São Vicente, popularmente, conhecida como “Praça da Cadeia”, por exemplo, possui um monumento, em forma de pirâmide que, se observado cuidadosamente, traz impresso um compasso, um esquadro e a letra “G” (vem de God, “Deus” em inglês), em cada lateral. O signo sintetiza a essência de sua filosofia, cujos valores, “Liberdade, Igualdade, e Fraternidade”, foram inspirados na Revolução Francesa.

A praça foi construída pelo maçon Domingos de Oliveira Prado, na sua gestão como grão-mestre, que durou de 1989 a 2002. De acordo com o que ele nos disse seu objetivo “era fazer com que os visitantes tivessem conhecimento da existência da maçonaria aqui e, de que ela está próxima de todos”. As praças Sergipe e Dois Leões conservam até hoje um obelisco, situado no centro delas. Este é um dos símbolos, típicos do Antigo Egito, usados pela maçonaria, para designar o deus “Baal”, e representar o “sexo”.

Poder e mistério

A maçonaria sempre esteve presente nos bastidores do poder. O templo da Loja “Perfeita Amizade Alagoana” ainda mantém guardados arquivos de grande valor histórico, desde a sua fundação em 1868, como o “livro de presença”, que consta a iniciação de Floriano Peixoto na Loja, no dia 10 de fevereiro de 1870. Dentre outras personalidades da nossa terra, que foram maçons, temos Marechal Deodoro da Fonseca (iniciado no Sul do País), Mal. Hermes da Fonseca, Barão de Penedo, Antonio Guedes de Miranda, e o Dr. Jaime de Altavila. Hoje, se destacam os nomes do ex-governador Divaldo Suruagy, do empresário Luiz Sá Peixoto e do senador Benedito de Lira.

“A maçonaria é uma sociedade filantrópica, filosófica, sem fins lucrativos que pugna pelo aperfeiçoamento moral e intelectual do homem. Ela não é uma sociedade secreta. Pois, tem estatuto e regimento interno, é registrada no cartório, tem endereço, paga impostos. O diferencial é o seu hermetismo”, esclarece Domingos, 70 anos, comerciante aposentado, há 50 anos maçom (atualmente, é grão-mestre honorário e membro fundador da Academia Maçônica de Letras de Alagoas). Ele confessa que “a maçonaria sempre conspirou, seja contra os tiranos, os maus governos e cidadãos. Pois, conspirar é uma forma de poder”.

O mistério, em torno da maçonaria, está relacionado com o juramento que os iniciados fazem prometendo não dizer nada do que viram ou ouviram para um não-iniciado. O historiador Jasper Rdiley em seu livro The Freemasons (“Maçons”, sem tradução para o português) revela um dos segredos mais valiosos da seita. O Grande Arquiteto de Universo, como eles se referem a Deus, é chamado de Jahbulon, uma mistura de outros nomes sagrados, como Jeová, Baal e Osíris. Os segredos maçônicos fizeram muitas pessoas pensarem que eles almejavam dominar o mundo.

Hitler, por exemplo, dizimou entre 80 mil e 200 mil integrantes dessa fraternidade, porque acreditava que os maçons eram manipulados pelos judeus. A Igreja Católica se opõe formalmente a maçonaria. O Papa Bento 16 publicou a Declaração Sobre as Associações Maçônicas, onde declara o seguinte: “Os fiéis que pertencem às associações maçônicas estão em grave pecado”. Domingos admite certa reserva: “Nós não contamos aos demais apenas os nossos rituais, que são versados no velho testamento, guardamos o segredo dos toques, dos sinais, das palavras e, ainda, mais um segredo, que remete à palavra sagrada”.

O historiador alemão Jan Snoek provoca: “Se existe algum segredo [na maçonaria], ele é individual, intransferível – é a experiência dos rituais maçônicos. Como explicar o gosto de uma laranja, para quem nunca comeu?”. Muitos leigos confundem a maçonaria com uma religião, o que para os maçons é um grande equívoco. Entretanto, Lafayette Assis Belo que era jornalista do antigo Jornal de Alagoas, escritor e advogado, dizia uma frase que permaneceu na memória de Domingos: “A maçonaria não é um religião. Contudo, é a minha religião”. Embora Lafayette, falasse por si, suas palavras, talvez possam traduzir o pensamento de muitos dos seus irmãos.

A renovação

Para se tornar um maçom o candidato deve ser homem, ter no mínimo 21 anos, acreditar em Deus, ser “livre e de bons costumes”, e indicado por algum membro de qualquer loja maçônica. José Antonio Soares Campos, 53 anos, policial rodoviário, é maçom há 11 anos. Ao atuar no Lions Club foi convidado para fazer parte da maçonaria. “Eu enumerei 11 metas [de caráter social]. E cumpri todas. Foi como despertou a atenção de dois irmãos, que me chamaram. Recebei a proposta, e respondi as 10 perguntas. Fui aceito, e estou satisfeito”, nos contou.

Em Alagoas, o ritual de iniciação acontece duas vezes por ano. São cerca de 50 a 80 novos membros anualmente. Percebendo a necessidade de atrair os jovens e desmistificar a maçonaria entre eles, foram criadas Lojas ditas Universitárias, na região Sul do País. Seu principal objetivo é desenvolver um ambiente propício à formação de líderes maçônicos e civis, ainda na faculdade. O diferencial dessas Lojas para as demais é quanto ao custo operacional, que é mantido por outra, apelidada “Loja Madrinha”.

Campos nos disse que recentemente ficou contente ao conhecer dois jovens aprendizes, um de 22 anos e o outro de 23, envolvidos com a fraternidade. Segundo ele, isso mostra que a maçonaria está em constante processo de renovação. E, quando Domingos é questionado sobre o que a maçonaria tem a oferecer de fascinante aos jovens, ele responde: “Aquilo que nos não encontramos no mundo comum. Na maçonaria, a gente tem quer ser para ter. E não o contrário. Além, de uma série de outras coisas que fazem a gente se apaixonar pela maçonaria”.

*Professor (a) Coordenador (a): Andréa Moreira Gonçalves de Albuquerque