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Universidade Federal de Alagoas - UFAL
 

18/11/2010
Comportamento
TIRANDO A POEIRA DOS VINIS

Os fãs de música da geração do iPod estão comprando bastante discos de vinil devido à qualidade sonora que é inegavelmente superior à do CD

Por Morena Melo Dias

A indústria fonográfica está tentando fazer reviver uma mídia difícil de piratear. O público está se tornando mais exigente e voltou a consumir vinil por este ter uma vida útil longa (em torno de 60 anos), enquanto o CD pode alcançar 10 anos de uso. Atualmente o público que consome a música materializada, em CDs ou Vinis, é constituído por pessoas que têm forte relação com a música e por isso o consumo do vinil tem crescido por causa da qualidade, inegavelmente, superior. São muitas as suposições, mas o fato é que os números comprovam o retorno do disco de vinil.

Apesar do alto custo de fabricação em relação ao CD, em 2007 – de acordo com a Nielsen SoundScan (instituição que monitora a movimentação da indústria fonográfica nos Estados Unidos) – 1 milhão de discos, saídos das fábricas, foram comprados, contra 858.000 em 2006. Com base nas vendas do fim de 2008 até agora, este número pode saltar para 1,6 milhões até o final de 2010. É certo que a pesquisa se concentrou nos Estados Unidos, mas este comportamento pode ser observado, também, aqui no Brasil.

Desde 2004 nomes como Maria Rita, Lenine e Pitty lançaram discos de vinil, ainda que timidamente – com cerca de 1000 discos por artista –, estamos andando de mãos dadas, mas a passos mais lentos, com o cenário internacional, onde a maior vendagem, atribuída ao álbum In Rainbws do Radiohead, alcançou 25.800 discos, que saíram das prateleiras para casa de nostálgicos e de novos consumidores da música sem pressa, entre os lados A e B.

No Brasil os discos reconquistaram as prateleiras da rede de livrarias Cultura; em Maceió os vinis lançados recentemente ainda não têm prateleiras cativas, o público crescente da ‘nova mídia’ consome em sebos do centro da cidade, que entre prateleiras de livros guardam espaço para verdadeiras raridades encobertas de poeira. Alternativa para compra de vinis em Maceió é a loja O Vinil, administrada há mais de 20 anos por Quincas. Localizada na Praça Sergipe, no bairro do Farol, a loja se mantém ao longo dos anos vendendo vinis e vitrolas usadas. “Eu fui uma das pessoas que nunca deixou o amor pelos discos ser levado pelos CDs, e fico feliz em ver que eles voltaram a ser produzidos e procurados, não só por colecionadores, mas também por muitos jovens”.

Jovens como Diego Narciso, 21 anos, estudante de Engenharia Ambiental, que comprou recentemente por R$ 90 o vinil Catch A Fire de Bob Marley, novinho em folha. “Eu prefiro o som do vinil ao som do mp3, claro que não deixo de usar o formato pela facilidade, mas não há nada como colocar a agulha no vinil e ouvir aquele som limpo. Há alguns meses comprei essa radiola e peguei uns vinis do meu pai, pena que restaram poucos. Quando vi esse do Bob pra vender fiquei louco!”.

Assim como Diego, Pamela Guimarães, 20, estudante de Teatro, declara seu gosto pelo som de vinil, “Pra mim ouvir vinil é como resgatar um pouco de uma época, de uma geração. É entrar em contato não só com músicos que eu admiro, mas com toda uma ideologia em que eu acredito”. Emersom Padilha, 23, estudante de Terapia Ocupacional também é adepto da radiola e conta como começou sua relação com a antiga (leia-se, nova) mídia. “Meu pai escutava bastante, daí eu curtia colocar pra ouvir também, depois veio essa onda de CD, eu acompanhei, mas sempre achei o maior barato o som de vinil, me parece mais sincero que o som do CD”. Emersom frequenta o Clube do Vinil de Maceió: o grupo foi criado em 2009 com o objetivo de reunir apreciadores da chamada mídia vintage. Todo último sábado do mês o pessoal se reúne na casa de um dos integrantes do grupo, cada um leva seus vinis e tem o direito de escolher o vinil de outra pessoa para pôr na “fila” dos que serão ouvidos. O ambiente é boêmio e os encontros geralmente têm temáticas, um mês se escuta samba, outro mês a música produzida na década de 1970 e assim os colecionadores trocam experiências, conhecimento e até mesmo vinis.

A REALIDADE DO MP3 – Em contraponto a essa tendência estão os arquivos em Mp3. Para Jonathan Sterne, autor do artigo “O Mp3 como Artefato Cultural” que compõe o livro Rumos da Música, “o Mp3 é um conjunto cristalizado de relações sociais e materiais. Ele é um objeto que ‘trabalha para’ e é ‘trabalhado por’ um grande grupo de pessoas, ideologias, tecnologias e outros elementos sociais e materiais”. Luis Gustavo Melo, 30, estudante de Jornalismo, defende: “eu acho que usar Mp3 é quase como na época das fitas cassetes que você gravava as músicas que queria e levava pra qualquer lugar num walkman; as fitas cassete também foram vistas como uma ameaça pra indústria nos anos 70”, e completa, “o legal da internet é que você acaba tendo acesso a coisas raras que antigamente você teria muita dificuldade de encontrar”. A realidade contemporânea é multifacetada ao ponto de abrigar com facilidade essas diferentes mídias, há espaço, público e momentos para essas diferentes formas de consumir música. A experiência de ouvir Mp3 quase sempre está associada a outras atividades, e desse modo a compactação do arquivo e a queda da qualidade do som não atrapalham o consumo.

Os arquivos em Mp3 garantem portabilidade, mas é certo que a variedade de notas do disco é maior e por isso o som reproduzido por ele garante fidelidade de essência, não de aparência como os sons compactados. Por isso os fãs de música da geração do iPod estão comprando discos, ou tirando a poeira dos vinis do papai.

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