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Universidade Federal de Alagoas - UFAL
 

27/06/2008
Ping-Pong
“O melhor repórter é o repórter burro”

Em entrevista à AUN, a jornalista Luiza Barreiros revela um pouco de seus 14 anos de carreira, traçando um panorama da profissão em Alagoas

Por Gabriela Ivo

Luiza Barreiros é graduada em Comunicação Social pela Ufal e, após já ter sido repórter dos jornais Gazeta de Alagoas, Tribuna de Alagoas e O Jornal, atua como assessora de imprensa do Ministério Público Federal em Alagoas. Sempre ligada à política, já atuou em editorias de Política, Polícia, Cidades e Economia.

Vencedora de prêmios como o Prêmio Salgema de Jornalismo, Grande Prêmio Banco do Brasil de Jornalismo e Prêmio Banco do Brasil de Jornalismo – que ganhou num mesmo ano em categorias distintas (Economia e Política) –, Luiza teve sua primeira experiência em redação como rádio-escuta: acompanhava e resumia programas de rádio e TV, a partir das 5 horas da manhã, para os jornalistas que chegariam mais tarde.

Trocou a correria da redação pela produção do programa de TV Bom Dia Alagoas, devido ao nascimento de sua terceira filha: “a TV definitivamente não é minha praia, mas o aprendizado foi excelente”.

Em entrevista concedida à Gabriela Ivo, da AUN, Luiza revela os prazeres e dificuldades de ser jornalista.

AUN: Por que se interessou pelo jornalismo?

Luiza Barreiros: Como todo estudante do segundo grau, tive fases de querer ser médica, advogada e uma, mais consistente, de ser jornalista. Sempre adorei ler, e ler notícias de jornais e revistas, mais ainda. Na época em que estava para decidir "o que iria ser quando crescer", na minha casa havia a assinatura do saudoso Jornal de Alagoas, tinha acesso a publicações como a Veja e a Folha de S. Paulo e, quando fiz vestibular (em 1989), o período político no Brasil e em Alagoas era extremamente rico, já que a Constituição Federal de 1988 havia sido discutida e aprovada um ano antes, e o Fernando Collor, eleito presidente naquele ano. Ou seja: além de escolher o jornalismo para ajudar a contar aqueles momentos da nossa história, já ingressei na faculdade tendo certeza de que o que eu queria fazer no jornalismo era escrever para jornal.

AUN: Como foi a sua trajetória até chegar ao que faz agora?

Luiza Barreiros: Na época em que fiz faculdade, o estágio em redação não era como hoje. Um ou outro conseguia. Mas minha primeira experiência em redação, ainda como estudante, foi na fase de implantação da Tribuna de Alagoas (a do PC Farias), como rádio-escuta. Chegava às 5 horas da manhã, ouvia os programas de rádio, acompanhava os telejornais da manhã e fazia um resumo para o pauteiro e repórteres que chegavam à redação a partir das 7, 8 horas. De lá, ia direto para a faculdade. Como profissional, a primeira experiência que tive foi na assessoria de comunicação da OAB/AL. Fiquei lá apenas alguns meses, até ser convidada, em 1995, para ser repórter de O Jornal, onde comecei na editoria de Cidades e depois passei muitos anos na de Política. Em dez anos de casa, saí de lá durante uns seis meses para fazer parte da equipe de Política da Tribuna, que circulou semanas após o assassinato do PC, ocorrida em junho de 1996. Fiquei lá por uns seis meses e depois voltei para O Jornal, a maior parte do tempo integrando a equipe do editor Plínio Lins. Em setembro de 2004 aceitei um convite para integrar a equipe do editor Rodrigo Cavalcante no jornal Gazeta de Alagoas, como repórter especial. Foi um momento importante na história do jornal da família Collor, já que Rodrigo Cavalcante fez parte de um projeto dos filhos do ex-presidente que pretendia dar uma nova cara à Gazeta, principalmente com mais independência editorial. Infelizmente o projeto acabou em janeiro do ano seguinte, mas ainda fiquei por lá mais um ano até que em 2006, por motivos relacionados à vida pessoal (com a chegada da terceira filha, ficou difícil acompanhar o ritmo da redação) troquei o jornal Gazeta pela TV Gazeta, do mesmo grupo. Na TV fui ser produtora do Bom Dia Alagoas e fiz algumas (pouquíssimas) aparições no vídeo com entrevistas para o próprio BDA. A TV definitivamente não é minha praia, mas o aprendizado foi excelente. Em abril de 2007 fui convidada para assumir e implantar a Assessoria de Comunicação do Ministério Público Federal de Alagoas, onde estou até hoje.

AUN: Quais as dificuldades enfrentadas pelo jornalista?

Luiza Barreiros: Acho que a maior delas é o fato de o seu trabalho durar apenas um dia. No caso de jornal, o trabalho que você levou todo o dia para fazer, no outro, quando é publicado, já é notícia velha. Então você tem que matar um leão por dia, já que temos páginas e mais páginas para preencher, de preferência com notícias quentes e exclusivas. Como a notícia tem que ser garimpada, apurada, repercutida com o outro lado, e, em geral, você tem três pautas diárias a cumprir, dificilmente você cumpre as cinco horas de trabalho (e é por elas que em geral você é remunerada!). Você mora na redação e passeia em casa (risos). Com o tempo, você vai ganhando fontes, as notícias chegam a você com mais facilidade e o trabalho é executado com maior facilidade.

AUN: E quais os prazeres?

Luiza Barreiros: São muitos. É muito bom receber uma informação de uma pessoa que ouviu falar em uma irregularidade, apurar, ouvir várias pessoas, e depois conseguir montar uma matéria completinha, contando toda a história, ouvindo todos os lados e, no outro dia, ainda ver sua matéria sendo repercutida nas ruas, sendo debatida nas rádios e servindo de pauta para a TV. Algumas vezes, o prazer é ainda maior, por haver resultados práticos da sua matéria, a exemplo da suspensão de um programa do governo, queda de um secretário ou instauração de uma investigação com base no que foi relatado na matéria. Também é um prazer ver seu trabalho premiado, um reconhecimento que muitas vezes vem de dentro de sua própria categoria.

AUN: Que conselhos você daria a um estudante de jornalismo?

Luiza Barreiros: Em primeiro lugar ter o hábito de ler notícias, ouvir notícias e tentar contextualizar essas informações, ter opiniões sobre elas, mesmo que isso não deva estar expresso em suas matérias. Saber ouvir é uma outra dica. O Plínio Lins, meu editor por muitos anos e um amigo muito querido, sempre disse que o melhor repórter é o repórter burro. Ou seja: o repórter que não chega para fazer uma matéria achando que já sabe tudo. O "repórter burro" (nesse sentido, viu?) pergunta muito, ouve muito e volta para a redação com as respostas para todas as perguntas do lead. O repórter também não deve ter vergonha de dizer algumas frases mágicas como "não entendi", "o senhor poderia traduzir isso", "ainda continuo sem entender". Tenha certeza de que o entrevistado ficará muito mais seguro de que, depois disso, as chances de o assunto ser tratado da melhor forma possível são muito maiores. O repórter também não pode ter preguiça (pedir para o assessor ou o entrevistado mandar as informações por e-mail, por exemplo, e se contentar com isso), não pode confiar numa única fonte (matéria sem ouvir o outro lado, só se puder escrever, com segurança, no final do texto, que "a reportagem tentou contato com o senhor fulano e seus advogados nos telefones de casa e do trabalho, mas até o fechamento dessa edição, não recebeu retorno"). Saiba de uma coisa: você pode escrever que fulano foi acusado de ser ladrão, corrupto, desonesto. Se você dá espaço na matéria para que ele dê sua versão para os fatos, como deve ser, ele vai odiar você do mesmo jeito, mas tenha certeza que lhe respeitará. E jornalista não deve esperar amizade de fonte. Mas respeito é imprescindível. Embora a remuneração do repórter não seja a melhor coisa do mundo, também acho ideal que ele não tenha assessorias de imprensa simultaneamente ao trabalho da redação (coisa que já tive, confesso). É complicado não misturar as bolas, um exercício verdadeiro de ética. Se ter outro trabalho for inevitável, que não seja na área que você cobre. Por exemplo: que isenção pode ter um repórter de Política que no outro horário é assessor da Assembléia Legislativa? Um repórter de Esportes que é diretor de imprensa de um clube de futebol? Meio complicado, não?

AUN: E como está sendo essa experiência de assessoria de comunicação, depois de tanto tempo de redação?

Luiza Barreiros: Estou há um ano e dois meses no Ministério Público Federal e adorando a experiência. De certa forma, você muda de lado, vira fonte. Como repórter, nunca tive preconceito contra assessores; ao contrário, sempre utilizei esses profissionais para ter acesso às fontes. No caso do MPF, a assessoria funciona quase como uma redação, já que há um trabalho coordenado pela Secretaria de Comunicação, em Brasília, que inclui reuniões de pauta, divulgação das matérias nacionalmente e gravações de texto para a rádio e TV Justiça. A diferença que mais sinto é escrever um texto com um lado só. Mas faz parte. Como assessores de comunicação, fazemos matérias institucionais, que devem servir como pauta para que os veículos utilizem as informações para uma matéria completa, insisto, ouvindo todos os lados envolvidos. Também estou aprendendo muita coisa sobre comunicação interna, que é um campo riquíssimo a ser trabalhado. Voltar para uma redação não está totalmente fora dos meus planos, mas para o meu atual momento de vida, nada poderia ser melhor que ser uma jornalista trabalhando com muito orgulho numa assessoria de comunicação.

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